A cidade de Santos possui, há quatro anos, um Banco de Leite Humano cujo objetivo é não só ter um local de processamento de leite, mas também um local de proteção, apoio e promoção do aleitamento materno. A assistência ao aleitamento já existe há trinta anos.
A idéia do banco surgiu há muitos anos, mas como na época a cidade era a número 1 em casos de Aids, a preocupação com a qualidade do leite doado era muito grande. “Não tínhamos condições de adquirir equipamentos que assegurassem a qualidade do leite distribuído”, diz a co-diretora do Centro de Lactação do hospital Guilherme Álvaro, Dra. Keiko Miyasaki Teruya. “Foi essa preocupação que fez com que demorássemos tanto para ter um Banco de leite em Santos”, continua.
Com o apoio do Ministério da Saúde, da Fundação Lusíada e do Hospital Guilherme Álvaro, o Banco de Leite possui um aparelho pasteurizador, e o setor de análises físico-química e microbiológica. Após passar por essas etapas o leite é, então, liberado para distribuição. Embora Peruíbe tenha sido a primeira cidade da Baixada Santista a possuir um Banco de Leite, o de Santos pretende ser o centro de referência da região.
Doação - Não é qualquer mãe que pode ser doadora de leite materno. Ela precisa ser saudável, ter todos os exames feitos no pré-natal normais e precisa estar amamentando seu filho. Somente o leite excedente poderá ser doado. “A gente não quer tirar o leite de ninguém, porque a primeira função de uma mãe é alimentar o seu filho”, diz a doutora Keiko.
A mãe doadora deve comparecer ao Banco de Leite, na primeira vez, para aprender as técnicas da ordenha. Para a retirada no local, a mãe precisa vestir-se com um jaleco, usar uma máscara, ter as unhas cortadas e limpas e passar por um processo de higienização. Depois de treinada ela recebe os frascos de coleta gratuitamente e poderá continuar fazendo a ordenha em casa. O leite coletado é armazenado no congelador por até 15 dias e depois levado ao Banco onde passará por toda a etapa de análise e pasteurização antes de ser doado.
Ayla Pimentel Vieira, de 30 anos é mãe de gêmeos. Seus filhos nasceram prematuros e estão na UTI neonatal. Ela foi até o Banco de Leite para aprender a técnica da ordenha. Sua preocupação é estimular a produção de leite, já que os bebês ainda não podem mamar, para que mais tarde ela possa ter a quantidade suficiente para eles. “Não estou tendo sucção e produzo pouco leite. A partir do momento que eu puder amamentar vou doar o excedente. O sentimento de poder doar é fabuloso você se sente útil, fazendo um bem para a humanidade”, diz satisfeita.
Para a médica pediatra e plantonista da UTI neonatal do Hospital Guilherme Álvaro, Roberta M. Greghi o leite materno vindo dos bancos de leite são para crianças em estado grave. “Com o leite elas se recuperam mais rápido, a digestão é mais rápida e ela desenvolve mais imunidade”, afirma. “Como tem mães que não podem amamentar seu filho ou não tem o suficiente, a importância do Banco de Leite é fundamental”, conclui ela.
A história - Por causa do trabalho de aleitamento materno que já vinha sendo feito há mais de 30 anos, a OMS — Organização Mundial de Saúde — reconheceu a cidade de Santos como um local próprio para ser um centro de referência - nacional e internacional (em países de língua portuguesa) — de treinamento em amamentação. O trabalho recebeu um prêmio de 50 mil dólares e a equipe foi escolhida para receber treinamento em um programa de aleitamento materno nos Estados Unidos. Daí em diante passou a ser um centro de referência no assunto.
"Somos reconhecidos pelo Ministério da Saúde, OMS e Unicef. No centro já treinamos praticamente pessoas do Brasil inteiro e mais da Guatemala, Congo, Cabo Verde e Angola e elas se tornaram multiplicadores em seu local de origem. Já temos mais de oito mil multiplicadores no Brasil e no mundo”, acrescenta Keiko.
O Banco de Leite de Santos funciona no Hospital Guilherme Álvaro e logo terá um portal no site do Ministério da Saúde.